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O abismo entre online e offline

Os desafios de se estabelecer uma boa comunicação entre online e offline através da compreensão das principais forças e fraquezas desses dois mundos.

"As corporações tendem a ver as pessoas como animais audiovisuais – um par de olhos e um par de orelhas conectados a dez dedos, uma tela e um cartão de crédito. Um passo crucial para a unificação do gênero humano é considerar que humanos têm corpos." HARARI, Yuval Noah.

Inicio com essa frase pois ela diz muito sobre o texto que li para elaboração deste post: o capítulo "Os humanos têm corpos" do livro "21 lições para o século 21" de Yuval Noah Harari. O capítulo começa falando de um manifesto de Marck Zuckeberg em que ele se mostrava bastante preocupado com a desintegração das comunidades por conta das tensões e polarizações causadas pelas constantes convulsões políticas. Nesse manifesto ele se comprometeu a lançar ferramentas para facilitar a construção de comunidades. Porém vários meses após isso, o escândalo da Cambridge Analytica - quando dados enviados ao Facebook foram colhidos por terceiros e usados para manipular as eleições em todo o mundo - expôs Zuckeberg ao ridículo e jogou por terra todo seu discurso, diminuindo a confiança das pessoas no Facebook.

A partir daí o texto começa a questionar se seria possível - mesmo com um Facebook mais comprometido com a segurança dos dados das pessoas - construir comunidades humanas seguras. O autor afirma que humanos sempre foram acostumados a viver em grupos de não mais que 10 pessoas e mesmo tendo milhares de amigos em nossas redes sociais, os que realmente conhecemos são muito poucos e substituir grupos pequenos de pessoas que se conhecem por comunidades imaginárias globais tem feito as pessoas viverem cada vez mais solitárias num mundo cada vez mais conectado.

Os esforços de Marck em tentar construir (ou aperfeiçoar) uma IA que conecte as pessoas através de interesses em comum a fim de reestruturar comunidades são louváveis mas acreditar que apenas uma IA é capaz de construir essas comunidades e conectar pessoas é ilusório.

O texto segue falando da importância em criar raízes no mundo offline.

É preciso também que as comunidades criem raízes no mundo offline. Comunidades físicas têm uma profundidade que as virtuais não são capazes de atingir. Se eu estiver doente na Califórnia meus amigos de Israel podem até me enviar desejos de melhoras pela internet, porém não poderão me trazer sopa ou uma xícara de chá. Humanos têm corpos.

O autor segue dizendo que talvez precisemos de ferramentas para nos conectar com nossas próprias experiências uma vez que o que sentimos está cada vez mais condicionado às reações online, e que o teste crucial para o Facebook virá quando eles conseguirem inventar uma ferramenta que estimule as pessoas a passar mais tempo no mundo offline, porém historicamente corporações não foram o veiculo ideal para liderar revoluções sociais ou politicas.

Porém o "plot twist" desse texto vem exatamente no final, quando ao discorrer sobre como as corporações precisam entender melhor nossos corpos para assim criar ferramentas offline eficazes, o autor quase que se arrepende de ter tentado a o longo de todo o texto propor uma aproximação maior entre online e offline. Ele ressalta que tecnologias como Google Glass e Pokemón Go (criados para fundir online e offline numa realidade aumentada) e sensores biométricos e interfaces cérebro computador podem se tornar prejudiciais à medida em que essas tecnologias aumentam seu controle sobre os humanos.

"A compreensão completa do nosso corpo pelos gigantes da tecnologia pode leva-los a controlar todo o nosso corpo e talvez tenhamos saudade da velha separação entre online e offline".

 

Minha visão a converge em muitos pontos com a do autor. Acredito piamente na força das comunidades offline, apesar de presenciar eventualmente o poder da voz e da união das comunidades online. Em meu entendimento online e offline ainda não conversam muito bem, mas assim como o autor vejo com certo temor a evolução "exagerada" das ferramentas que podem ser agregadas a nossas vidas. O humano precisa ter garantida e estimulada a capacidade de fazer coisas por conta própria e escolha própria (assumindo nessa narrativa o contexto de máquinas com autonomia).

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